Pesquisar este blog

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Supervisão


Nessa supervisão, temas relacionados a ética na atuação na rua, foi o tema que norteou as discussões. Até aonde o Consultório de Rua pode ir? Essa interrogativa surgiu a partir da discussão de um caso. Trata-se de uma jovem, com histórico de prostituição,  abortos, uso de crack e morada na rua. A mesma é acompanhada pela equipe há algum tempo. Ela refere ter família que reside em uma área violenta do subúrbio de Salvador, em que a sua irmã, periodicamente a visita na rua, demonstrando a manutenção do vinculo, desaprovação a vida que a irmã leva na rua e o desejo de tê-la em casa.

Em um longo atendimento com a educadora social e enfermeira da equipe, por volta das 22:00 horas, em meio a angustia e choro, mediante a constatação do sofrimento que viver na rua causa, a usuária fala de como é a sua casa e que esta percebendo a necessidade de sair da rua e buscar tratamento para o uso do crack. As profissionais então propõe  agendar para que na manhã do dia seguinte elas possam acompanhá-la até o CETAD ou a casa da mãe dela e esta responde "de que adianta eu marcar com vocês, se eu sei que amanhã eu posso não estar? eu não sei se vou usar algo e se fumar o crack não estarei aqui. Eu quero ir agora! Me leve pra casa!"

Como agir nesses casos? Ela não possuía nenhum telefone para contato, para que a equipe pudesse ligar avisando da ida, não havia certeza do que a equipe poderia aguardar nesse local. E se a família não a quisesse? Como lidar com os limites da intervenção na rua? Como lidar com a angustia dos técnicos mediante a constatação de que pouco podiam fazer naquele momento para além de dar a escuta necessária e manejar o sofrimento daquela jovem? Como entender que ir ao encontro não é pouco?

 


2 comentários:

  1. De fato, marcar algo com alguém pressupõe ordenamento dos impulsos, do contrário dificilmente cumpriremos algum compromisso pois estaremos ocupados demais satisfazendo o primeiro impulso do momento a tomar as rédeas de nossa consciência. Mas, de todo modo, fico pensando se não caberia responder: "e de que adianta, então, nós levarmos você para casa, já que você não tem controle nenhum sobre seu comportamento? Ou seja, quem garante que você não estará de volta, fumando crack?". Tal pergunta tenderia a implantar, nela, a necessidade de ser sujeito de seus prazeres, de suas ações - e seria mais "terapêutico" que levá-la assim, sem qualquer cuidado de si, sem qualquer desejo de constituição de um "si", de um "eu", que regule minimamente seus impulsos. Se ela respondesse, então, "eu garanto, se tiver ajuda", aí, sim, valeria levá-la e dar apoio não somente a ela, mas também à sua família.
    Anselmo

    ResponderExcluir
  2. E se dissesse "não"? Também valeria, pois mesmo com baixa probabilidade de permanecer com a família, o contato com esta poderia abrir novas possibilidades estratégicas, como encaminhar alguns parentes para um grupo de família do CETAD; e, caso a mulher fosse encontrada novamente na rua por conta do crack e ela pedisse novamente para ser levada, estaria justificada a questão a ser colocada para ela sobre qual é o cuidado que ela (não) vem tendo de si, ou seja, o que ela vem fazendo para sua própria transformação de alguém levado pelos impulsos de cada momento (de "estrutura" caótica) para alguém com um impulso ou conjunto de impulsos dominante dos demais (de "estrutura" ordenada), ou seja, para alguém sujeito de seus prazeres e de seus comportamentos. Se ela dissesse "nada", seria a oportunidade de perguntar se ela gostaria de se transformar em sujeito de seu destino. Um "sim", então, assinaria sua inscrição no desejo de si e possibilitaria o encaminhamento para o CETAD ou qualquer outro dispositivo que atendesse à sua necessidade de tratamento. Como diria o poeta: tudo vale a pena se a gente sabe tirar proveito.
    Anselmo

    ResponderExcluir